23 de setembro de 2015

CHÁ VERDE E EMAGRECIMENTO

Olá Pessoal!

Resultado de imagem para figuras chá verde


Li um artigo essa semana e achei interessante compartilhar, pois fala de uma planta que foi tema do meu TCC em uma das minhas pós graduações, a Camelia sinensis, o famoso chá verde. Esse artigo me chamou a atenção por relacionar essa planta ao emagrecimento, o qual é o objetivo de 9 entre 10 dos pacientes que atendo em meu consultório.

A obesidade vem aumentando de maneira assustadora. Ela é uma doença crônica que se caracteriza por um acúmulo excessivo de gordura corporal, a ponto de comprometer a saúde física e psicológica da pessoa, além de reduzir a expectativa de vida. Tem vários posts aqui no blog falando sobre vários aspectos da obesidade.

Devido a gravidade deste problema de saúde pública, cada vez mais pesquisas são realizadas sobre os alimentos que auxiliam na prevenção e tratamento da obesidade e suas consequências à saúde.

Vários estudos mostram que o chá verde (Camelia sinensis) tem uma alta concentração de flavonóides conhecidos como catequinas, capazes de auxiliar a redução do peso corporal, gordura corporal e ajudar na prevenção e tratamento da obesidade e doenças associadas. 

Na folha desta planta destaca-se a presença de água, proteínas, glicídeos, sais minerais, vitaminas (ácido ascórbico e algumas do complexo B), cafeína, teobromina e teaflavina, derivados polifenóicos. Esses componentes estão presentes na folha fresca, quando fazemos a infusão, esses valores caem drasticamente.

Alguns estudos em humanos demonstram que uma mistura de componentes do chá verde e cafeína aumenta a termogênese e a oxidação lipídica, promovendo um gasto energético maior. Além disso, as catequinas do chá verde são capazes de reduzir o peso corporal e gordura visceral.

As substâncias presentes no chá verde melhoram o perfil lipídico, diminuindo a concentração de colesterol total, LDL e triglicérides

O polifenol em maior quantidade no chá verde, a epigalocatequina, pode estimular a termogênese e oxidação lipídica. Esses efeitos termogênicos resultam das interações entre as catequinas, cafeína e noradrenalina. A catequina inibe a COMT, a qual é a enzima responsável por degradar noradrenalina na fenda sináptica, o que prolonga seu efeito. E a cafeína inibe o complexo enzimático fosfodiesterase, que degrada AMPc, prolongando seu efeito na célula. O AMPc é o segundo mensageiro intracelular para termogênese mediado por noradrenalina. Essa interação sinérgica resultaria em um aumento do efeito prolongado da noradrenalina na termogênese. 

O chá verde também possui propriedades anti-angiogênicas que poderiam prevenir o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. Além disso, o sistema nervoso simpático está envolvido na regulação da lipólise e a inervação simpática do tecido adiposo branco pode ter uma papel importante na regulação geral da gordura corporal total.

Um estudo feito em 2003 avaliou a relação do consumo habitual de chá verde, o percentual e a distribuição da gordura corporal em 1103 indivíduos. 43% destes eram consumidores habituais de chá e apresentaram um menor percentual de gordura corporal e uma menor relação cintura-quadril do que os que não consumiam chá. Essa relação mostrou-se maior entre os indivíduos que consumiam habitualmente o chá verde por mais de 10 anos.

O efeito supressor do chá verde na gordura corporal pode ser resultado do aumento no gasto energético, principalmente através da ativação e estimulação do B-adrenoreceptor no tecido adiposo marrom.

As catequinas podem corrigir os parâmetros bioquímicos do metabolismo lipídico (concentração de colesterol total, triglicerídeos e LDL), gordura visceral e atividade de enzimas antioxidantes.

Essa redução de triglicerídeos no fígado e gordura visceral pode ser explicada pelo aumento da B-oxidação do ácido graxo no fígado e diminuição da atividade da enzima ácido graxo sintetase. 

O chá verde reduz o consumo celular de glicose acompanhado por uma diminuição da translocação do transportador de glicose, o GLUT 4 no tecido adiposo, enquanto estimula o consumo celular de glicose no tecido muscular esquelético. Ele também pode reduzir a absorção de glicose e gordura pela inibição de enzimas gastrointestinais envolvidas na digestão de nutrientes. 

Os principais meios de ação para a redução do peso e gordura corporal seriam o aumento da oxidação lipídica, aumento do gasto energético, diminuição da diferenciação de adipócitos, morte celular de adipócitos maduros e diminuição da absorção lipídica. 

Os mecanismos moleculares pelos quais o chá verde e seus componentes exercem esse efeito parecem variados e necessitam de constantes investigações. 

Além do emagrecimento em si, o chá verde também é eficaz na prevenção e tratamento de doenças associadas a obesidade (diabetes, dislipidemias, doenças cardiovasculares) através da redução de triacilglicerol, colesterol total, LDL oxidada e absorção de glicose. 

Mas ainda há incertezas com relação a quantidade a ser consumida para que ocorram todos esses efeitos. A individualidade de cada um deve ser sempre considerada. Portanto se você pretende começar a tomar chá verde para emagrecer, consulte o seu nutricionista antes para saber qual é a quantidade ideal. Além disso é importantíssimo lembrar que não é todo mundo que pode tomar esse chá... pessoas com problema de tireoide ou em tratamento de câncer, por exemplo, devem passar longe dele. Só um profissional habilitado (ou seja um Nutricionista) poderá te auxiliar nessa escolha.

Um abraço e até o próximo post.

Resultado de imagem para figuras chá verde

Fonte: Freitas, H. C. P., Navarro, F. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, 2007.

8 de setembro de 2015

OS PODERES DA CHIA

Olá Pessoal!
Resultado de imagem para figuras chia


Faz muito tempo que não escrevo a respeito de algum alimento específico. Por isso, hoje resolvi falar sobre a Chia, alimento presente nas minhas prescrições e no meu dia a dia devido aos seus maravilhosos benefícios. 

A chia (Salvia hispanica L.) é uma semente antiga utilizada pelos maias e astecas como alimento para aumentar a resistência física. É uma planta herbácea que pertence a família Lamiaceae.

Essa sementinha possui elevado valor nutricional com altos teores de ômega 3 (ácido alfa-linolênico) e ômega 6 (ácido linoleico), já falei bastante sobre eles em outros posts. Também é rica em proteínas, antioxidantes e fibras. Sua composição química basicamente é: lipídeos, proteínas, fibras, Niacina, Riboflavina, Tiamina e vitamina A. Além de cálcio, fósforo, boro, magnésio, manganês, zinco, ferro e potássio. 

Há evidências epidemiológicas que as dietas que promovem a saúde são ricas em fibras alimentares e ômega 3; além de serem pobres em gordura saturada, gorduras trans e excesso de colesterol. 

As sementes de chia são promissoras como fonte de antioxidantes, devido a presença de polifenóis. 

De acordo com alguns estudos o seu consumo pode impedir o início de dislipidemias e resistência a insulina, claro que acompanhado de uma alimentação adequada e exercícios físicos. Ela sozinha não faz milagres. 

Substituir ingredientes menos nutritivos por outros de maior valor nutricional, sem comprometer o sabor dos alimentos é uma prática importante para se constituir uma dieta saudável. A chia é particularmente interessante dentro dessa lógica, pois, além de melhorar o valor nutricional de preparações, apresenta grande capacidade de reter água e óleo, características que fazem dela uma candidata natural como aditivo para produtos de panificação e como emulsão alimentar. 

A chia é cultivada comercialmente no México, Bolívia, Argentina, Equador e Guatemala. Em alguns lugares aqui no Brasil já podemos encontrá-la. Pode crescer até 2 metros e o rendimento médio é de 250g de semente por pé, sendo a melhor época de produção as estações onde as chuvas são espaçadas e as temperaturas são maiores. 

As sementes são utilizadas como suplementos nutricionais, bem como na fabricação de alimentos como barras, cereais matinais, pães, biscoitos. 

Possui uma quantidade significativa de lipídeos (cerca de 40% do peso total da semente, sendo quase 60% como ômega 3) e também fibras (mais de 30% do peso total), ambos componentes importantes para a nossa dieta. Em sua composição também encontramos proteínas de alto valor biológico, minerais e antioxidantes naturais como tocoferóis e polifenóis. Entre os principais compostos fenólicos encontrados estão o ácido clorogênico, ácido caféico, quercetina e kaempferol, os quais nos protegem contra algumas doenças como as cardiovasculares e câncer. 

O consumo de ômega 3 ajuda na redução da viscosidade do sangue. Esse efeito favorece a microcirculação e possibilita maior oxigenação dos tecidos. O consumo frequente de alimentos ricos em ômega 3 reduz os níveis de colesterol e triglicerídeos do sangue, ajuda a reduzir a pressão arterial, havendo associação a menores índices de doenças cardiovasculares. 

A partir da ingestão do ômega 3 há a biossíntese no organismo dos ácidos graxos EPA e DHA, os quais desempenham funções fisiológicas e metabólicas diferentes e igualmente importantes. O EPA se relaciona principalmente com a proteção de saúde cardiovascular e o DHA é considerado fundamental para o desenvolvimento do cérebro e do sistema visual, o que o associa à saúde materno infantil. 

Além de seu papel nutricional na dieta, os ácidos graxos ômega 3 podem ajudar a prevenir e/ou tratar uma variedade de patologias incluindo doenças cardíacas, câncer, artrite, depressão, mal de alzheimer. 

Assim como peixes são considerados as mais importantes fontes de ômega 3 de origem animal, a chia e a linhaça são consideradas as principais fontes desse ácido graxo de origem vegetal. 

A alimentação deve ser rica em fibras, proteínas e ácidos graxos ômega 3, os quais podem ser adquiridos por aumento de consumo de sementes, e a chia é uma alternativa promissora para o aumento desses componentes na dieta, visto que ela contém os três.

Os radicais livres oxidam vários compostos como proteínas, ácidos nucleicos, DNA e lipídeos. Podendo levar a formação de doenças degenerativas. O interesse de estudo nos compostos fenólicos tem aumentado muito, devido principalmente a habilidade antioxidante dessas substâncias em sequestrar radicais livres, os quais são prejudiciais à saúde humana. 

Os compostos fenólicos têm sido considerados os mais importantes grupos do reino vegetal e são sintetizados durante o desenvolvimento normal da planta, bem como em resposta a diferentes situações, como estresse e radiação UV. O poder antioxidante dos compostos fenólicos está relacionado a sua capacidade de quelar metais, inibir a lipogênese e capturar os radicais livres. A semente de chia contém uma quantidade de compostos fenólicos com potente atividade antioxidante devido a substâncias como mirecetina, quercetina, kaempferol, ácido cafeico e ácido clorogênico. 

A chia tem um grande potencial dentro da indústria alimentícia, pois sua oxidação é mínima, comparada a outras fontes de ômega 3, como a linhaça, que apresenta uma decomposição mais rápida devido a ausência de antioxidantes.

O conteúdo de proteína da chia é mais elevado que o milho, trigo, arroz, aveia, cevada e amaranto. Embora ela não seja cultivada comercialmente como fonte proteica, o seu perfil de aminoácidos não tem fatores limitantes da dieta do adulto. O percentual de proteínas (19 a 23%) da semente de chia é parecido ao da lentilha (23%), ervilha (25%) e grão de bico (21%). Ela contém todos os aminoácidos essenciais necessários para a nutrição humana. 

A alta quantidade de fibras da semente de chia (34,6%) pode aumentar a saciedade e diminuir o consumo de energia (carboidratos...).

Quando colocadas na água elas formam um gel transparente, uma mucilagem. Esse gel formado quando ingerido, produz uma barreira física que separa as enzimas digestivas dos carboidratos, promovendo uma lenta conversão destes em açúcar, consequentemente uma digestão e absorção mais lenta. Além disso, mantém os níveis de açúcares no sangue, sendo útil na prevenção e controle do diabetes. Devido as essa mucilagem a chia pode ser usada como fibra dietética (solúvel).

Resultado de imagem para figuras chiaDiante do crescimento da atenção mundial aos alimentos funcionais (aqueles que agregam mais benefícios além da sua principal função) e a onda de mudanças no estilo de vida para um estilo mais saudável, novos alimentos que antes não faziam parte do nosso dia a dia passam a ter mais espaço, mais atenção e mais estudos científicos. Nós só temos a ganhar!!

Um abraço e até o próximo post!



Fonte: Coelho, M.S., Mellado, M. Composição química, propriedades funcionais e aplicações da semente de chia (Salvia hispanica L.). Brazilian Journal Of Food Technology, 2014.
The Promissing Future of Chia. Journal of Biomedicine and Biotechnology, 2012.